segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Infância

Pedro se aproximou da goiabeira e gritou pela irmã, ela estava no galho mais alto que pudera subir, estava fugindo do pai.
- Vamos Lia, o pai ta chamando. Se você não descer, vou mandar ele vir aqui te buscar.
- Pois que mande, eu não vou descer. - Falou em meio as lágrimas, ha pouco subira na árvore em prantos.
- Você só ta piorando as coisas, o pai vai zangar com você. É melhor obedecer Lia.
- Não! Me deixe em paz! Vá embora daqui. Quero ficar sozinha.
- Ta bom, mas uma hora você vai ter que descer, não pode ficar aí em cima pra sempre.
- Vou sim, vá embora.
- Deixe só começar a escurecer, pra ver quem tem razão.
  Pedro se foi e ela ficou sozinha, recomeçou a chorar. O joelho que havia machucado ardia, o sangue havia escorrido por toda a perna deixando a visão ainda mais dramática. Pouco depois Inácio surgiu em baixo da árvore sério.
- Desce daí Lia!
- Não pai, por favor, me deixe ficar aqui? Não me leve pra minha mãe?
- Ela não vai te machucar filha, vai só lavar seu ferimento, por remédio e fazer um curativo pra não infeccionar.
- Mas vai doer. Não basta o que já to sofrendo com esse machucado?
- Deixe pelo menos eu ver como é que ta isso?
- Ta bem, mas não toca. - Desceu e se sentou no galho mais baixo, próxima ao pai, atenta aos movimentos dele. Não queria cair em armadilhas.
- Vixe! Ta bem feio hein? - Falou examinando a escoriação no joelho direito da menina, havia esfolado toda a região. Certamente inflamaria e a impediria de andar ou movimentar a perna por alguns dias.
- Ta vendo! Vai doer muito.
- Mas se não cuidar vai ser pior. É melhor a gente lavar isso, tirar essa areia, botar uma pomadinha e cobrir pra não infeccionar. Como foi isso?
- Foi de bicicleta, desci a ladeira sem freio, bati em uma pedra e caí.
- Meu Deus, o que vocês não fizerem, outro não faz. Vem, vamos entrar pra ver isso. E tenha como exemplo pra próxima.
- Não pai, mamãe vai machucar ainda mais. - Começou a chorar novamente deixando o pai comovido.
- Vem, eu não vou deixar sua mãe lhe machucar, se você quiser eu mesmo lavo, coloco remédio, faço um curativo com muito cuidado.
- Você faria isso pai?
- Claro querida, vem, pule no meu braço.
- Vou sujar sua roupa, minha perna ta toda ensanguentada.
- Não tem problema, eu lavo depois. Venha!
Estendeu os braços e a segurou, era tão pequena pra umas coisas, mas pra outras parecia ter vinte anos. Lia se aconchegou no ombro do pai e enxugou as lágrimas. Nunca havia sofrido tanto. Não sabia se sofrera mais com a dor ou com a expectativa do curativo que a mãe faria.



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